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Rede Trabalhadores e Covid-19 homenageia vítimas da Covid-19 em evento

No dia 12 de março de 2020, o Brasil registrava a primeira morte pelo novo coronavírus. Três anos depois, após muita luta e reivindicações sociais, a Câmara dos Deputados intitulou a data como o Dia Nacional em Memória das Vítimas da Covid-19.  E no primeiro ano com o dia já registrada, a Rede Trabalhadores & Covid-19, projeto do Centro de Estudos da saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz) realizou o evento Trabalhadores vítimas da Covid-19: memórias, justiça e reparação, uma atividade emocionante, que reuniu diversas lideranças, movimentos sociais e pesquisadores que dividiram suas experiências diante da pandemia da covid-19.

A abertura contou com representantes da Fiocruz que tiveram papel importante no combate da doença, tanto para auxiliar os trabalhadores como a sociedade em geral, como a representante da vice-presidência de ambiente, atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), a médica Patrícia Canto, que relembrou todas as vítimas da pandemia, lembrando que o país tem mais de 700mil mortes pela doença, da qual pontuou “o número elevado de óbitos, que se deu por uma gestão política que negava a existência da doença e debochava daqueles que morreram ou que estavam em estado crítico”. A pesquisadora relembrou de ações importantes realizadas pelo Cesteh, mesmo diante do caótico cenário da pandemia, para ajudar trabalhadores com doenças respiratórias. “Criamos um grupo com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e preparador físico para fazer avaliação por telefone e visitas domiciliares, quando necessário, para esses pacientes com problemas respiratórios que não podiam comparecer ao ambulatório”, salientou a pesquisadora, finalizando a sua fala, pontuando o grande ganho que os trabalhadores tiveram atualmente, tendo a Covid-19 reconhecida como doença ocupacional.

A Vice-diretora de ambulatório e laboratório (VDAL), Fátima Rocha, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) enalteceu o trabalho realizado pela Rede na criação do Observatório de Doenças Infecciosas do Trabalho (ODIT), como sendo um espaço importante para informações aos trabalhadores. A pesquisadora parabenizou o grande envolvimento do Cesteh em se tornar cada vez mais um espaço para movimentos sociais e sindicais. “Estamos em um novo governo, mas precisamos ter essa base com esses movimentos para que propostas efetivas de políticas publicas sejam consagradas para fortalecemos, ainda mais, o processo de saúde pública desse país”, salientou, enfatizando que o cuidado com a saúde é um momento civilizatório.

A então coordenadora do Cesteh e coordenadora do projeto Rede Trabalhadores & Covid-19, Rita Mattos, destacou que eventos como esse devem acontecer sempre, para que “não caia no esquecimento do que foi, realmente, uma pandemia”. A coordenadora contou do início da Rede, um momento angustiante diante de tantas dúvidas dos trabalhadores. “Eu, Liliane Teixeira e Maria Juliana já fazíamos parte de alguns grupos de trabalhadores e recebíamos as dúvidas sobre a doença. Aquilo nos incomodou e resolvemos montar a Rede, que naquele início teve o apoio de uma emenda parlamentar do Freixo”, relembrou ela, explicando que o documento inicialmente foi voltado para as categorias invisibilizadas, mas consideradas essenciais, como o setor de frigorífico e petroleiro. Além dessas categorias, a Rede Trabalhadores atuou com diversos trabalhadores e sindicatos, auxiliando na elaboração de notas técnicas e de boletins que objetivava, fundamentalmente, planos de contingências, orientações sobre testagem, vacinação e sessões científicas para auxiliar e sanar as dúvidas pré-existentes.

“Fizemos uma comunicação e informação inovadora para esses trabalhadores. Foram emitidos Notas técnicas que orientaram, inclusive, ações do Ministério Público do Trabalho”, concluiu.

A coordenadora finalizou a sua fala e a mesa de abertura também ressaltando a participação dos movimentos sociais e sindicais na atividade. “Vocês vão sair daqui como sementes para outros movimentos. E é isso que essa casa, atualmente, quer! Que o movimento e representação social tomem contam e impulsione a academia”, concluiu ela, com a leitura do texto do pensador quilombola, ativista, escritor e professor Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo.

“Mesmo que queimem a escrita, não queimem a oralidade.

Mesmo que queimem os símbolos, não queimem os significados.

Mesmo que queimem os corpos, não queimem a ancestralidade.”

A atividade teve a segunda mesa intitulada Experiência dos trabalhadores e das representações sociais na Covid-19 contou com a participação da Profissional da Saúde e Conselheira Nacional da Saúde, Shirley Marshal – de forma híbrida – , a coordenadora geral do Movimento Unido dos Camelôs e da Ocupação Gilberto Domingos (Muca) Maria dos Camelôs, a presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil) Paola Falceta, a Liderança Nacional do Coletivo de Viúva, Vera Aragão, a pesquisadora do Cesteh Letícia Masson, que apresentou um trabalho junto com a categoria de trabalhadores por aplicativo e o geógrafo, tradutor e professor associado TerritoriAL/UNESP / Allan Rodrigo de Campos Silva, representando a categoria dos frigoríficos.

Além de representações sindicais, estiveram presentes na atividade os coletivos Linhas da Gamboa, Bordados Militantes e Fio as cinco e pontoque levaram os trabalhos bordados em homenagem as vítimas da doença. No decorrer da atividade, as bordaeiras colocaram o nome de parentes e amigos dos presentes que foram vítimas do coronavírus na bandeira da Avico.

O evento foi finalizado com um depoimento emocionante de Mari Blanc, viúva do letrista, compositor, cronista e médico brasileiro Aldir Blanc.

 Em 20 minutos de fala que prendeu a atenção de todos, a viúva contou como foi o processo de enfrentamento dela e do então marido contra a doença. Aldir Blanc faleceu no dia 4 de maio de 2020, devido a infecção pelo coronavírus. Blanceternizou seu nome na música brasileira com canções feitas em parceria com João Bosco, como O Bêbado e a Equilibrista, sucesso na voz de Elis Regina.

Confira a atividade completa no vídeo abaixo

 

Ouça o podcast com os participantes aqui